sábado, 16 de outubro de 2010

Relato sobre os congressos do IUFRO (Bragança, Portugal) e do IENE (Velence, Hungria)

       A Conferência Internacional de Ecologia da Paisagem do IUFRO (IUFRO Landscape Ecology Working Group International Conference), realizada no Instituto Politécnico de Bragança, em Bragança, Portugal, no período de 21 a 24 de setembro de 2010, é uma reunião da área de Ecologia da Paisagem mais específica para questões de ambientes florestais. Por sua especificidade, é um evento de pequeno porte contando com cerca de 300 participantes, incluindo alguns dos profissionais mais relevantes da área (p.ex. Monica Turner, Marie-Josee Fortin, Santiago Saura, Tom Evans, Sandra Luque, entre outros). O Simpósio de Ecologia de Estradas (“Road Ecology: improving connectivity”) que organizei junto com Fernando Ascensão (Universidade de Lisboa) foi ótimo e teve um bom público. Para mim, foi uma excelente oportunidade de conhecer pessoalmente alguns pesquisadores especialistas no tema, seus trabalhos mais recentes e divulgar meu trabalho. Eu apresentei oralmente, no dia 22/09, os resultados do projeto em colaboração com o Prof. Jean Paul Metzger (USP), fruto da iniciação científica de Cláudia Orsini Machado de Sousa, onde avaliamos a área de vegetação nativa e das unidades de conservação do Estado de São Paulo afetadas pelas estradas, além da relação entre a distância das estradas e a cobertura de vegetação nativa do Estado (veja o resumo em anexo). Os espanhóis – Juan Malo e Cristina Mata (Universidad Autonoma de Madrid) – vem avaliando, há anos, a eficiência de medidas para reduzir a mortalidade de animais por colisões com veículos em rodovias e para aumentar a conectividade de populações animais isoladas pelas rodovias. A portuguesa – Clara Grilo – possui anos de experiência no monitoramento de animais atropelados e implementação de medidas mitigadoras nas rodovias portuguesas e espanholas. Pretendo, em um futuro próximo, reuni-los em uma reunião ibero-americana de Ecologia de Estradas. O primeiro passo foi comentar sobre o sucesso do 1º Congresso Brasileiro de Ecologia de Estradas (Road Ecology Brazil 2010) realizado em agosto em Lavras (MG), do qual fiz parte da comissão organizadora. Além disso, conversamos sobre a possibilidade de projetos em colaboração Brasil-Espanha e Brasil-Portugal para desenvolver esta linha de pesquisa no Brasil e aplicar as medidas mitigadoras mais eficientes na Europa em rodovias brasileiras e avaliar sua eficiência em um contexto de alta biodiversidade. Vejam as fotos aqui.
            A Conferência Internacional sobre Ecologia e Transportes da IENE (Infra Eco Network Europe), realizada no Hotel Juventus, em Velence, Hungria, no período de 27 de setembro a 1 de outubro de 2010, é a reunião mais relevante da área de Ecologia de Estradas da Europa. É um evento de pequeno porte contando com cerca de 200 participantes, envolvendo pesquisadores e tomadores de decisão na área de transportes. Alguns dos pesquisadores de renome nesta área, presentes no evento, foram: Lenore Fahrig, Andreas Seiler, Jochen Jaeger, Antonio Mira e Edgar Van der Grift. Eu apresentei oralmente, no dia 28/09, o mesmo trabalho que havia apresentado no IUFRO (veja o resumo estendido em anexo). Neste congresso, mais específico de Ecologia de Estradas e menor do que o IUFRO, tive a oportunidade de conversar com muitos pesquisadores. Vale ressaltar que eu e Alex Bager (UFLA) – com quem tenho um projeto em colaboração – fomos os únicos brasileiros, e pelo que sei os únicos latino-americanos, no evento. Reencontrei a Clara Grilo e o Edgar van der Grift com quem pretendo desenvolver projetos em colaboração em breve. A palestra da Lenore Fahrig foi excelente e destacou como é importante determinar o tipo de impacto causado pelas estradas sobre as comunidades (e populações) animais para selecionar a melhor medida mitigadora (ex. passagens ou cercas). Se o maior impacto é a mortalidade (significativa para a viabilidade da população) por atropelamento, a melhor medida é colocar cercas ao longo da rodovia, evitando assim que os animais atravessem a rodovia. Por outro lado, se o maior problema é o isolamento de populações porque os animais evitam atravessar a rodovia; a melhor solução seria implantar passagens para fauna e outras medidas para aumentar a conectividade. Em geral, segundo ela, o maior problema é a mortalidade por atropelamento. Mas para definir qual o maior impacto das estradas, experimentos distintos devem ser delineados. Assisti ao Workshop do Jochen Jaeger sobre as ferramentas para quantificar fragmentação da paisagem (“mesh size”) e seu potencial para uso por gestores e tomadores de decisão. Também foi bastante inspirador. Além disso, tivemos a chance de visitar diferentes medidas mitigadoras implantadas nas rodovias húngaras: passagens para fauna sobre a rodovia, túneis atravessando sob a rodovia, refletores para afugentar os animais e passagens sobre túneis. Com certeza, esta conferência foi inspiradora, enriquecedora e espero, pode gerar projetos em colaboração no futuro. Vejam as fotos aqui.

Nenhum comentário:

Postar um comentário